quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Aconteceu. Por Gabito Nunes

"Eu amo você e não sei expressar isso de uma outra forma que não soe como a fala de protagonistas no último capítulo de uma novela ruim. Eu sei que você não me vê pelo mesmo ângulo e eu tentei aceitar isso. Não suporto mais ser considerado seu amigo. Não porque eu não goste, ou porque não seja o bastante pra mim. Mas porque as coisas não têm sido como antes, depois que deixei escapar algumas coisas. Você sabe disso. É porque, deus, odeio ler nos seus olhos que as coisas estão mudando, essa sensação de que com o tempo ninguém pode. Eu sei, eu sei, que isso tudo nunca foi uma opção, que isso tudo dilacera com o nosso acordo e blablablá. E sei também que você deve estar pensando se isso não é uma reles atração passageira. Não é. Eu passei meses me testando, me contorcendo ao ouvir você falar dos seus encontros fracassados com sósias do Mark Ruffalo e o escambau, me segurando pra não aninhar seu pavor no meu abraço já na terceira cena de "Jogos Mortais". Eu não aguento mais. Não vou esconder meu desejo por você só porque hoje em dia isso parece uma fraqueza. Aposto que um aneurisma estaria agora bem próximo se eu passasse mais um dia sem deixar as coisas claras, como a gente ingenuamente sempre achou que fosse o melhor. Nossa amizade já foi pro saco, estamos rodando no olho do furacão e acredito que só vamos seguir nos vendo se pularmos algumas etapas. É o que estou tentando fazer, mesmo sem sua ajuda. Eu quero uma coisa constante, eu quero você comigo. Eu queria que esses meus dois quereres entrassem num acordo. Nos beijamos esses dias, você deve lembrar. Sei que eu não me esqueci. Sabe, rabisquei seu rosto no bloquinho ao lado do telefone, esperando você atender. Ficou perfeito, no papel: você olhando pra mim. O que estou tentando dizer é que aquele foi o beijo que, em tempos, me fez sentir algo. Vai ver por isso me perdi completamente na sequência do roteiro das coisas. Eu não sei em qual fase estamos, se entre nós existe aqueles protocolos que se lê em manchetes de revistas comportamentais. Seu rosto parece contrariado como se eu fosse mais um daqueles a te dar uma bola nas costas. É o que estou sentindo agora, o que vou fazer? Não fiquei do seu lado esse tempo todo planejando como comer você. Aconteceu. E a culpa também é sua. Da pele macia nas suas canelas. Da vez que você me telefonou chorando porque era aniversário da sua mãe. Porque você esquece que eu existo e acaba trocando de blusa na minha frente. Porque você escolhe canções difíceis pra cantar em karaokês, se perde na letra e acaba avermelhada e tímida no meio do palco. Porque você me cegou para tudo que não é você ou sobre você. Se você disser sim, vai ser ótimo. Se não, tudo bem, vou passar aqueles períodos solitários de entre-safra, como nos filmes, quando o mocinho fica perdido por aí, ouvindo canções da Belle And Sebastian e esperando o roteirista decidir se vão ser felizes para sempre ou é melhor o ator tratar de desenhar um novo círculo de amigos. Sofrendo ou amando, não importa, eu apenas quero começar a viver as coisas, e não atravessar meus dias plantado no vácuo, como seu amiguinho."

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